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Emocional da Mãe e Sucesso da Introdução Alimentar

Ansiedade, culpa e insegurança, sentimentos de muitas mães na fase da introdução alimentar de seus filhos. Como lidar com elas?

por Aline Melo de Aguiar

Desde a década de 1990, a OMS trabalha pela proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno. Dentre suas recomendações, dita que:

  1. o aleitamento materno exclusivo deve ir até os 6 meses de idade, não devendo haver nenhum outro alimento ou bebida complementar;
  2. a partir dos 6 meses de idade todas as crianças devem receber alimentos complementares (sopas, papas, etc.) e manter o aleitamento materno; e
  3. as crianças devem continuar a ser amamentadas, pelo menos, até completarem os 2 anos de idade.


Entretanto, a legislação trabalhista brasileira diz que a licença maternidade é de 120 dias. Algumas instituições já adotam 6 (seis) meses de licença, mas ainda não é a regra geral. Nós, mulheres, sabemos que voltar ao trabalho é uma fonte de tensão, ainda mais com a cobrança de aleitamento materno exclusivo até 6 (seis) meses. A logística para retirar leite ao longo do dia durante o trabalho para manter o aleitamento materno exclusivo pelo período recomendado, para quem volta a trabalhar antes, é extenuante e, por vezes, inviável, dependendo do tipo de trabalho da mãe. Desse modo, para a grande maioria de mães trabalhadoras, o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses é bastante dificultado e/ou impossibilitado. Sem falar das mães profissionais autônomas que, por vezes, ainda tem este período de licença mais reduzido por força das circunstâncias.

Tal incompatibilidade entre o “mundo ideal” e o “mundo real” acaba por acarretar desconforto emocional para uma etapa tão importante da vida do bebê, que é a introdução alimentar. E também para a vida da mãe, que, em termos psíquicos, precisa se adaptar para a nova fase.

Independente da questão trabalhista, pois nem toda mãe tem um trabalho fora de casa, a amamentação exclusiva carrega uma forte simbologia, relativa à manutenção da vida do bebê. É motivo de orgulho para a mãe, levar o bebê ao pediatra todo mês e verificar o número na balança aumentando, ainda mais, quando através do seu próprio leite. Envolve uma sensação de poder e, também, a continuidade entre a ligação mãe-bebê, que durante a gestação era total e se mantém com o aleitamento exclusivo.

O momento da introdução de outros alimentos, complementar ou substituto ao leite materno, pode levar a mãe a questionar como será possível se relacionar tão intimamente com o bebê sem ser através do seio e como ele crescerá sem ela. Desse modo, quando chega a hora da introdução alimentar, vem junto certa ansiedade e, até mesmo, temor.

É preciso que as mães façam uma reorganização mental para aceitar que o vínculo entre mãe e bebê vai continuar existindo além do peito e que a introdução alimentar não é, necessariamente, um desmame completo, ou seja, ela ainda vai ter a amamentação por um período de tempo.

Como psicóloga, especialista em atenção integral à saúde materno-infantil, tenho contato com mulheres que estão passando por este período e as queixas, em grande parte, são similares. Apesar das mães se sentirem solitárias com tais sentimentos, como se fossem sentimentos únicos, quase proibidos e difíceis de expressar. Joana e Ana Luz são duas dessas mães que aceitaram dar um pequeno relato de como passaram por esse momento da transição peito-comida!

Joana, mãe de Samuel (3 anos) e de Nina (3 meses), tinha certeza de que faria aleitamento materno exclusivo até os 6 meses do filho mais velho. Ela relata como se sentiu com a introdução alimentar do primeiro filho, antes desse período: “Lá pelos 3 meses, o pediatra comentou sobre a introdução de alimentos. Veja bem, comentou, não falou que tinha que fazer naquele momento. Eu passei a consulta toda com lágrimas nos olhos. Até hoje não consigo processar exatamente o porquê da choradeira, talvez por ele (Samuel) não precisar mais de mim, talvez por estar crescendo, não sei exatamente.”

Com 4 meses e meio Joana, de fato, começou a introdução alimentar com suco de frutas, mas, na prática, Samuel só aceitou a introdução alimentar perto de completar 6 meses. Sobre esta experiência, em relação ao tempo do bebê para aceitar o alimento, ela diz: “Lamento não ter observado meu filho. Lamento não ter feito diferente”.

Já, com Nina, Joana espera que seja mais tranquilo e no tempo dela: “Essa semana, na consulta com a pediatra dela, a uma semana de completar 3 meses, conversamos sobre o que fazer diante da perspectiva de retorno ao trabalho. Decidimos que introduzir fruta era o mais adequado em complementação ao leite materno. Não houve choro da minha parte. Ainda. Não sei se ela vai aceitar a introdução de alimentos mais facilmente do que o irmão. No fundo, eu nutro a esperança que seja tudo tranquilo. Que ela abra a boca para a fruta com vontade, que goste e se divirta com os novos alimentos. Mas eu espero que eu consiga ter paciência e capacidade para observá-la melhor. E respeitar seu próprio tempo”.

A aceitação do alimento pelo bebê é algo que acontece aos poucos, principalmente para o bebê em aleitamento materno exclusivo. Ele, simplesmente, ainda não sabe comer! Mas vai aprender. Todos nós aprendemos, mas para a mãe, aquelas semanas de adaptação parecem que não acabarão jamais. No caso de Joana o sentimento mais presente foi de culpa por não ter esperado o tempo de Samuel. Já para Ana Luz, mãe de Dora (11 meses), o sentimento foi de frustração, pela filha, aparentemente, não ter gostado de comer.

É preciso ter calma, paciência, persistência e bom humor, pois alimentar um bebê que ainda não sabe comer pode ser um estresse, tanto em relação às fantasias nutricionais (Será que o bebê não vai ganhar peso? Por que está comendo pouco?) quanto à bagunça que ocorre no ambiente. Sim, ele vai cuspir quase tudo no início, até aprender como posicionar a língua para engolir o alimento e, provavelmente, haverá comida para todo lado! Além da reorganização da rotina, pois antes, com o peito, já estava tudo pronto. Era tirar a blusa e, pronto, o bebê estaria alimentado! E agora é preciso programar a alimentação, ir à rua comprar os alimentos, aprender receitas, ter tempo para cozinhar ou para solicitar que alguém o faça, lavar a louça e, em seguida, já estará na hora do bebê comer novamente. Tudo isso, em geral, quase no mesmo momento da volta ao trabalho da mãe.

Resumindo, a introdução alimentar traz embutida sentimentos diversos nas mães, gerando ansiedade, culpa, insegurança, mas é preciso ser vista como uma fase. Sim, seu bebê vai aprender a comer e você vai ter certeza que ele vai continuar te amando para além do aleitamento materno! Paciência e confiança são as palavras para este momento, pois você vai conseguir passar por ele!


Depoimento – Ana Luz, mãe de Dora, 11 meses

“Iniciar a introdução de sólidos na alimentação da minha filha foi a primeira grande dificuldade que tive na maternidade. Depois de seis meses de aleitamento exclusivo, eu me vi numa situação bastante paradoxal. Ao mesmo tempo em que lia sobre métodos diferentes e me empolgava com as receitas, eu me sentia triste e preocupada por não ser mais a única fonte de alimentos da minha bebê. Me preocupava muito com a manutenção do nosso vínculo e cada vez que ouvia alguém falar a palavra desmame, sentia um frio na espinha.

Li bastante sobre o assunto, muito mesmo. Decidi que tentaria o BLW (babyledweaning) com minha filha. Mas ninguém me contou que ela não comeria praticamente nada nas primeiras semanas. Não me passou pela cabeça que isso seria também um aprendizado para ela. Tanto que hoje, quando vem alguma mãe me falar sobre esse momento, eu faço questão de lembrar desta parte: os bebês precisam aprender a engolir.

Minha frustração foi enorme logo que minha bebê começou a comer, simplesmente porque muito se fala sobre o quanto esse momento é importante para o bebê, sem pensar que a mãe do bebê está também passando por um importante e delicado momento”.