Experiência de Atendimento em Grupo Para Mulheres no Pós-Parto

Painel apresentado em congresso
por Aline Melo de Aguiar (psicóloga, UERJ/UFRJ), Marcus Renato de Carvalho (pediatra, UFRJ)

Introdução

A chegada de um bebê, em geral, traz alterações na rotina de uma família. O momento do pós-parto apresenta especificidades e requer um conhecimento amplo por parte dos profissionais de saúde envolvidos no atendimento às famílias, inclusive sobre o desenvolvimento humano nos diferentes momentos da ontogênese.

Este estudo pretende abordar tais especificidades e demonstrar, de forma exploratória, como uma prática psicoeducativa pode atuar de modo preventivo e promotor de saúde para a mulher e a sua família no período pós-parto.

A fundamentação teórica é baseada na psicologia evolucionista (PE) que aponta que o bebê humano não é um “filhote” como o de outros mamíferos, ele apresenta propensões e especificidades próprias da espécie homo sapiens.

A PE baseia-se na teoria da evolução de Darwin e seus desdobramentos para discutir a adaptabilidade do ser humano ao seu meio. Considera tanto as predisposições biológicas quanto as especificidades do comportamento em diferentes contextos, levando em conta características individuais e buscando saber como ocorre a interação entre características da espécie e a experiência pessoal. Tem como premissas:

a existência de uma natureza humana universal, que contém mecanismos psicológicos produtos da evolução da espécie;
que os mecanismos psicológicos são adaptações resultantes de um processo de seleção natural ao longo do tempo evolucionário;
a concepção de que estrutura da mente humana é adaptativa ao ambiente ancestral de evolução e apresenta mecanismos que permitem que os seres humanos produzam, absorvam, modifiquem e transmitam cultura.

Com base nessa perspectiva, assume-se que um bebê, quando nasce, traz consigo um pouco da história da espécie, na qual aspectos estruturais do seu desenvolvimento foram selecionados ao longo de milhares de anos. Esses processos não são arbitrários, nem inflexíveis, mas adaptados ao longo do tempo. Um exemplo é a imaturidade com a qual nasce a espécie humana e suas propensões para aprender e se socializar.

A compreensão do bebê humano, a partir da PE, não fica completa sem a inclusão do contexto cultural, pois ele está ligado à vida em sociedade e ao meio ambiente onde está inserido e será cuidado. Com esta visão, as mães que recebem atendimento psicoducativo no pós-parto podem entender o quanto seus filhos necessitam de cuidado e, também, o quanto elas mesmas precisam do suporte, por meio de uma rede social de apoio, para atender prontamente às necessidades de um bebê que se comunica somente através do corpo e do choro. Ao mesmo tempo, as mães podem compreender seu contexto (ocupação, estado civil, relacionamento familiar, classe social, nível educacional etc.) e se preparar para vivenciar da melhor maneira possível esse momento de grande demanda física e emocional.

Método

Este é um estudo exploratório e descritivo, baseado na prática em psicologia clínica, apoiado na visão de Homem estabelecida a partir de princípios e noções da PE e na Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) que é utilizada para fundamentar o atendimento psicoeducativo. Serão apresentados conceitos básicos da TCC e as especificidades do atendimento psicoeducativo em grupo para mulheres no pós-parto.

A premissa básica da TCC é a de que a forma como as pessoas interpretam suas experiências determina como elas se sentem e se comportam. Pode-se aprofundar tal premissa a partir da definição de um dos principais conceitos da TCC: a cognição. De uma maneira ampla, diz-se que cognição engloba tanto o conteúdo do pensamento quanto os processos envolvidos no pensar. É pela cognição que uma pessoa avalia uma dada situação, a partir de estímulos (internos e/ou externos), refletindo na sua visão sobre si, os outros e o mundo. Qualquer alteração no conteúdo de uma dada cognição também afeta o estado afetivo e comportamental da pessoa.

Partindo dessas concepções gerais, alguns conceitos da TCC são relevantes para a compreensão do trabalho com as mães no pós-parto, tais como:

  • pensamentos automáticos;
  • crenças centrais (ou nucleares);
  • crenças intermediárias (ou condicionais).

Esses conceitos são o pano de fundo do atendimento psicoeducativo, pois quando uma mãe se sente, por exemplo, incapaz de cuidar do seu bebê, procura-se trazer à tona o que está por trás de tal avaliação. Considera-se, então, quais as crenças, os pensamentos automáticos e os aspectos da sua história de vida estão contribuindo para o que ocorre na sua relação com o bebê.

Pensando em uma mulher-mãe, que, por conta do bebê, acaba tendo suas relações sociais alteradas, o atendimento psicoeducativo em grupo torna-se um importante espaço para trocas de informações e experiências e para a elaboração das angústias e ansiedades.

Um desses grupos, que serve de referência para este estudo, ocorre na cidade do Rio de Janeiro, em clínica privada, e atende, em sua maioria, mães oriundas do grupo de gestantes coordenado pela mesma equipe. A maioria das mulheres possui curso superior e pós-graduação, tem idades entre 30 e 40 anos, pertence à classe média e já recebeu orientação prévia sobre amamentação, cuidados com bebê e pós-parto.

O grupo tem no máximo seis participantes, é aberto, com participação voluntária, os temas discutidos são sugerido pelas próprias mães, e a frequência é, em média, de dois encontros por mês, de duas horas cada. O trabalho psicoeducativo tem por objetivos:

  • acolher e discutir questões fisiológicas e emocionais relacionadas ao pós-parto;
  • fornecer conhecimento sobre as características, o desenvolvimento e os cuidados com o bebê;
  • auxiliar a mãe a lidar melhor com angústias, culpas, excesso de trabalho e cansaço;
  • orientar para a formação de uma rede de apoio;
  • abordar aspectos socioeconômicos e culturais relativos a volta ao trabalho e a retomada da intimidade do casal;
  • refletir sobre o papel materno, sem perder de vista a mulher; e
  • orientar para a criação de filhos emocionalmente saudáveis.

A metodologia aplicada utiliza dinâmicas de grupo; aula expositiva; discussão de temas e leituras indicadas baseadas nos temas levantados para discussão. Como complemento, existe um grupo de apoio virtual no Facebook para que as mães possam “dialogar” sobre o tema que será escolhido para ser tratado no encontro. Desse modo, há um diálogo constante e não somente quando há o encontro presencial.

Resultados e discussão

Espera-se, com este estudo, contribuir com uma proposta de atendimento psicoeducativo no pós-parto que promova o melhor desenvolvimento do bebê, a construção de uma maternidade emocionalmente mais saudável e a promoção em saúde e qualidade de vida.

Conclusão

As mulheres, de um modo geral, precisam de apoio para assumir seu papel materno. Os grupos podem servir de rede de apoio complementar. Sendo assim, outros estudos precisam ser desenvolvidos para embasar cientificamente os levantamentos deste estudo exploratório e descritivo, tais como a tese de doutorado (em andamento), da primeira autora, que focaliza a maternidade contemporânea e o uso de grupos no Facebook como rede de apoio.